Estereótipo, preconceito e discriminação: a importância de entender a diferença

Se quisermos entender a razão porque jovens e idosos são discriminados, precisamos começar por entender onde tudo começa: na formação dos estereótipos.

Estereótipos são formados ainda na infância, dentro de casa e, logo mais, na escola. Antes, deixemos claro: estereótipos dizem respeito ao que pensamos; preconceitos ao que sentimos e discriminação a como agimos.

Imaginemos uma criança de família branca. A família “tem” uma empregada doméstica. Negra, como sói acontecer. E pobre, porque se não fosse, com certeza não seria empregada doméstica.

Essa criança cresce vendo os pais mandarem e a empregada obedecendo. Os pais e ela aproveitando a vida enquanto a empregada mantém a casa em ordem. E a comida. Aos poucos, vai estabelecendo o conceito –estereótipo – de que negros e pobres são serviçais. São e serão, sempre, menos que ela. Aqui começa, pela vivência, pela repetição, pelo exemplo dos pais, o preconceito, o desenvolvimento de um se sentir “superior”, “melhor”.

Com certeza irá para uma escola privada. Lá verá que donos e professores são brancos e que atendentes, cozinheiras, faxineiras, seguranças e tantos outros são serviçais. Estão lá para que ela possa apenas estudar e brincar no recreio. E aprender sobre a escravidão. Reforço daquilo que já estava aprendendo em casa.

Ao ver que tem um coleguinha negro, uma ponta de dúvida surgirá. Sem entender como é possível um negro na escola que frequenta, ao chegar em casa comenta com os pais. E recebe a explicação: não tem problema, alguns negros até conseguem melhorar de vida. Só não faz grupo com ele e não convida para vir aqui em casa. Começa a formação da discriminação.

Vamos substituir a empregada pelos avós já idosos. Mesmo que tenha a sorte de ter avós com saúde, independentes e ativos, ouvirá dos pais, senão reclamações, comentários do quanto dão trabalho e preocupações. Em visitas sempre ouvirá: cuidado que eles já são velhinhos.

O ciclo inicia: cresce formando a ideia (estereótipo) de que pessoas “velhas” são um “problema”. Junto ao afeto que desenvolve pelos avós, vai desenvolvendo – até pelas conversas que escuta dos pais – o preconceito: ser velho é a pior coisa do mundo. Crescemos com a ideia de “não quero ser velho”.

Dissocia-se, nesse momento, ou melhor, sequer se forma, o conceito de “a vida é assim e tudo bem”. Cresce sentindo que será, no máximo, adulto. Como os pais; como os professores. Jamais será velho.

Caminho pavimentado para a discriminação. Para a pior das discriminações, que é a discriminação da maioria das pessoas com relação aos idosos: a indiferença. E essa é a luta, a luta contra a indiferença quando falamos de idosos.

Somos uma sociedade excludente, mas pior que ser excludente é ser indiferente. O excluído pode lutar; os não vistos, os vulneráveis, em sua imensa maioria idosos, não.

Muito tem sido feito pelos idosos por organizações, comunidades, associações, mas nada, absolutamente nada, tem sido feito para mudar a cultura da indiferença contra idosos. E mudar começa por mudar o começo de tudo: a formação dos estereótipos na infância e adolescência. Não deixar que se tornem preconceitos. E discriminação. E indiferença.

Precisamos mudar. Urgente!

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