Era um sábado qualquer quando a família se reuniu para um festival de música. Tanto podia ser no Rock in Rio como em um outro qualquer que vemos pelo país. O cenário era uma loucura: palcos gigantes, gente eufórica, e um som tão alto que fazia o coração bater no ritmo da música. Ana, uma jovem de 20 anos, estava em seu paraíso pessoal. Fones de ouvido, os dedos voando no celular, compartilhando stories no seu Instagram daily, pensando em possíveis vídeos para o Tik Tok e vibrando com o set de uma DJ eletrônica. Para ela, aquilo era “hype”. Já seu pai, Pedro, de 55 anos, de calças e camiseta preta do IRA, olhava em volta e só conseguia pensar: “Esses jovens, hein? Onde foi parar o bom e velho rock’n’roll?”
Ao lado deles estava Maria, uma mulher vibrante, roupas indianas e cabelos brancos bem tratados, a avó de 73 anos. Ela balançava a cabeça lentamente, lembrando de quando assistiu a Janis Joplin no Monterey Pop Festival. Era o auge de sua juventude. “Ah, Janis… isso sim era música!”, pensava, sem entender muito bem por que alguém chamaria um DJ de “hype”.
– “Essa DJ tá lacrando ! É o set do ano, sério!”, exclamou Ana, os olhos brilhando. Pedro soltou uma risada e respondeu:
-“Lacrando? Na minha época, a banda detonava!”
Ana revirou os olhos.
-“Ai, pai, detonava? Que cringe!”
Maria, sempre sábia, entrou na conversa com uma risadinha:
-“Na minha época, a gente falava que a banda estava arrasando, meu bem. O tempo passa, mas a música fica.”
Na verdade, os três estavam envolvidos em uma das cenas mais universais da vida: o choque de gerações. Não era só sobre música. Não era só sobre as gírias que cada um usava. Era sobre como cada um via o mundo através de suas próprias lentes, moldadas pelas décadas em que cresceram.
Pedro tomou um gole da cerveja e resolveu dar um passo adiante:
-“Mas e aí, Ana, você acha que essa tal de música eletrônica pode ser chamada de rock?”
Ana, claramente ofendida pela pergunta, respondeu:
-“Pai, é tudo, é outra vibe! Guitarra e bateria são tão 2010, né?”
Pedro quase engasgou.
– “2010? Isso não é rock de verdade. Na minha época, rock era Stones, guitarra, bateria, vocal potente. Essa música eletrônica é… barulhenta demais.”
Maria, que até então só observava a discussão, soltou uma gargalhada:
-“Barulhenta? Ah, meu filho, tente ouvir o Jimi Hendrix ao vivo, aí você vai saber o que é barulho! Mas, confesso, essa música eletrônica também não é para mim.”
Ana olhou para os dois, rindo.
-“Vocês são tão cringe! Mas sério, é hype. Vocês deviam se atualizar!”
Pedro balançou a cabeça, divertido:
-“Hype, essa palavra já tá fora de moda! A moda agora deve ser outra que ainda nem conheço.”
Maria, sem entender nada, virou para a neta:
-“E o que é esse tal de hype?”
Ana riu.
-“Ai, vó, você é incrível! Hype é tipo… algo muito popular, sabe? Tá bombando, tá na boca do povo.”
Maria piscou os olhos, tentando absorver a explicação.
-“Ah, entendi. Então é mais ou menos como a moda do twist nos anos 60?”
Pedro e Ana se entreolharam. E naquele momento, perceberam que a avó, mesmo sem saber o que era “hype”, já tinha vivido várias versões disso. Assim como Pedro, que achava que nada seria melhor que os Rolling Stones, já tinha vivido sua própria revolução musical. E Ana, com suas gírias e DJs, estava apenas vivendo a sua. No fundo, eles estavam todos no mesmo barco, só que cada um com seu próprio glossário.
A grande verdade é que cada geração carrega suas gírias, suas músicas, suas referências culturais como um crachá de identidade. Mas será que é mesmo preciso um glossário intergeracional? Talvez não seja. Talvez, o que a gente precise mesmo é de paciência para ouvir, e de vontade de entender o que o outro tem a dizer — seja com “arrasando”, “detonando” ou “mandando ver”. Porque, no fim das contas, o que realmente une as gerações não é a linguagem. É a música, a história, e, acima de tudo, as risadas que vêm quando percebemos que, apesar das palavras diferentes, estamos todos falando a mesma coisa.
E aí, quem sabe um dia, num futuro não tão distante, Ana possa explicar para os filhos dela o que era “hype”, e eles vão rir, assim como Pedro riu naquele festival. E assim, a roda da vida continua girando, com cada geração criando seu próprio glossário, enquanto tenta entender — e ser entendida — pelas que vieram antes e pelas que virão depois.
Enquanto não temos esse dialógo tão afinadao, que tal fazermos uma tentativa de entender o que cada geração quer dizer com cada termo? Confesso que pedi uma ajuda à IA para tentar montar este Glossário Intergeracional. Sujeito a correções, adendos, sugestões e malhações.
Baby Boomers: (de 1945 a metade da década de 60) Valorizavam o casamento e relacionamentos duradouros. A linguagem era mais formal e tradicional. Lineares para o aprendizado, com início, meio e fim.
Geração X: (fim da década de 60 até 1980): Mais individualistas, buscavam parcerias e relacionamentos mais equitativos. A linguagem se tornou mais informal. Valoriza aprendizagem colaborativa.
Millennials: (1981 a 1995) Valorizam experiências e autenticidade. A linguagem se tornou mais casual e inclusiva, com termos como “relacionamento tóxico” e “ghosting”. Aprendizado de forma linear, valorizam a independência.
Geração Z: (1995 a 2010) Nascidos na era digital, usam a linguagem de forma criativa e adaptável às novas tecnologias. Termos como “shippar” e “ghosting” se popularizaram. Raciocinio não linear e multifocal. Autodidatas e lógicos.
Legal
– Baby Boomers: Bacana
– Geração X: Maneiro
-Millennials: Show/Da hora
– Geração Z: Top/ Tudo
Estou me divertindo
– Baby Boomers: Estou me esbaldando
– Geração X: Tô curtindo pra caramba
– Millennials: Tô de boa
-Geração Z: Tô na vibe
Incrível
– Baby Boomers – Supimpa
-Geração X: Anima
-Millennials: Sensacional
-Geração Z: Absurdo
Paquerar
-Baby Boomers: Cortejar
-Geração X: Ficar
-Millennials: Dar em cima
-Geração Z: Dar um match
Decepcionado
-Baby Boomers: Chateado
-Geração X: Puto
-Millennials: Bolado
-Geração Z: Deu ruim / Na bad
Fora de moda
-Baby Boomers: Passado
-Geração X: Cafona
-Millennials: Brega
-Geração Z: Cringe
Terminar um relacionamento
-Baby Boomers: Dar um fora
-Geração X: Acabar tudo
-Millennials: Dar um pé na bunda
-Geração Z: Ghostear / Dar um block
Amigo
– Baby Boomers: Camarada
-Geração X: Parça
-Millennials: Brother / Mano
-Geração Z: Contatinho
Muito cansado
-Baby Boomers: Exausto
-Geração X: Deu PT
-Millennials: Quebrado / Morto
– Geração Z: Acabado / Destruído
Algo popular
-Baby Boomers: Na moda
– Geração X: Estourado
-Millennials: Bombando
-Geração Z: Viral / Trend / Hypado
Algo muito bom
-Baby Boomers: Formidável
-Geração X: Show de bola
-Millennials: Massa
-Geração Z: Insano
Concordar
-Baby Boomers: Concordo plenamente
-Geração X: Fechou
-Millennials: Tamo junto
-Geração Z: Faz total sentido / Real
Disse tudo
Sensacional
Nos vamos em frente
Adeli
Excelente, Elenara.
Imagina quando estou em sala de aula e meus universitários têm entre 18 a mais de 65 anos. É quando identifico que preciso ajustar os termos e entrar na vibe(r). Uiii!