Adeli Sell é professor, escritor e Bacharel em Direito. Atualmente exerce o mandato de Vereador na cidade de Porto Alegre.
Não apenas um preconceito, mas o estereótipo, descambando para a gerontofobia.
Já vinha de ter sido levantada a ideia de Movimento, a qual aderi de pronto, pensando e escrevendo, como foi o caso de minha participação na coordenação e escritos no livro “Metamorfose da Vida” e “Perdei tudo, e agora?.”
Autor de textos em coletâneas (“Metamorfose da Vida I e II”, “Enchente – Uma coletânea em prosa e verso” e “Perdi Tudo. E agora?”) sobre os problemas enfrentados pelas pessoas idosas na enchente de maio de 2024 em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, além de diversos livros, dentre os quais o recém lançado “Archymedes Fortini – Crônicas Selecionadas”, uma coletânea das obras do jornalista.
Nessa entrevista ele relata experiências, sentimentos e como vê o futuro em um país que envelhece rapidamente.
O que te fez entrar para o Movimento Sociedade Sem Idadismo?
A consciência de que sou uma pessoa idosa. Que já ouvi ser chamado de velho por opiniões e ações, faz algum tempo.
Hoje, aos 71 anos concorri à Câmara Municipal, sendo que entrei na Câmara em 1997, tendo exercido vários mandatos parlamentares e, no Executivo, ter recebido recados e ouvido discursos contra os velhos, “os de sempre”, tendo que renovar etc. e tal. O discurso era claramente de idadismo.
Na tua opinião, quais são os principais estereótipos associados às pessoas idosas?
Ultrapassado, sem noção, incapaz, caquético, mais um monte de “conceitos” que precedem qualquer fala ou pensamento sobre a pessoa idosa.
Já presenciou ou vivenciou situações de idadismo? Pode compartilhar alguma experiência?
“Não tem jeito, este cara é velho mesmo”, frase que de um jeito ou de outro ouvi várias vezes.
Na atividade legislativa, já sofreste alguma dificuldade com relação ao trabalho por conta do idadismo?
Disse acima que na campanha sofri isto violentamente. Mas mesmo tendo uma experiência do movimento estudantil, algo sabido e notório, pouco fui demandado pelo setor juvenil.
Com relação às políticas públicas, o que poderia ser feito para dar mais efetividade a elas?
É, em Porto Alegre, como no Rio Grande do Sul, um dos mais graves problemas. Não temos efetivas políticas públicas para idosos. As atividades realizadas no passado nas praças parques sumiram quase todas. O Tesourinha fechou para reformar, e os idosos foram abandonados.
A página sobre IDOSOS no sitio eletrônico da Prefeitura é “vazio”, nada diz e nada propõe.
A Prefeitura solicitou recursos para projetos e ações do Executivo do Fundo do Idoso, em pressão direta sobre o COMUI.
O desdém com a pessoa na capital com maior número de idosos e longevos é total: calçadas quebradas, falta de faixas de segurança, sem pisos rebaixados nos ônibus.
Quais políticas públicas poderiam ser implementadas para combater o idadismo?
Academias ao ar livre em praças e parques, pronto atendimento em ônibus adaptados em grandes condomínios e nas associações comunitárias.
Não temos na capital qualquer experiência com casas-dia. Só para dar alguns poucos exemplos.
Como a mídia e a publicidade contribuem para a perpetuação do idadismo?
O mais notável é a ligação por interesses claramente econômicos e a grande mídia com a criação da tal “economia prateada”. Depois, os insistentes programas de que a pessoa idosa não entende de tecnologia, metendo terror na pessoa idosa sobre golpes, em vez de ter matérias educativas, antes de abordar o problema, que é real, mas a abordagem é preconceituosa e perigosa..
Como podemos educar as gerações mais jovens sobre o respeito e a valorização das pessoas idosas?
Com uma oxigenação dos conteúdos nas escolas de ensino fundamental ao médio.
As prefeituras deveriam ter programas públicos nas escolas, hospitais, transporte coletivo, chamando a atenção para o respeito à pessoa idosa.
Quais são os benefícios de uma sociedade que valoriza e inclui as pessoas idosas?
Experiência não se encontra na esquina, mas em casa cabeça prateada tem um monte de informações e sabedoria. Nós estamos jogando no lixo parte de nossa história, algo que os orientais não fazem, a Europa já deixou de fazer.
Que ações individuais podemos tomar para combater o idadismo em nosso dia a dia?
Tomar consciência do transcurso do tempo, que a morte é inexorável, que temos finitude. Que temos que lugar pela igualdade, pelo respeito, pela cidadania em cada momento, em cada ato.