Horizontes nº 2 – Velhos ou envelhescentes?

Grace Gomes

As mulheres vestiram roupas mais ousadas, algumas pintaram os cabelos e outras assumiram seus grisalhos com glamour, não se contentaram com a viuvez ou divórcio e foram em busca de novos relacionamentos, ou ficaram plenas vivendo sozinhas e independentes, não aceitaram cuidar de netos exclusivamente, e buscaram novas experiências, como tatuagens, cirurgia plástica, preenchimento labial, reconstituição de períneo, interesse por novas possibilidades sexuais, seja com vibradores, com tantra, pompoarismo e tantas outras nunca antes cogitadas. As viagens sozinhas ou em grupo, atividade física, dança e até alguns esportes radicais, também começaram a fazer parte da vida destas envelhescentes que antes sonhavam com fotonovelas, atores de cinema e liberdade sexual.

Os homens usando jeans e camisetas da moda, tornaram-se motociclistas por hobby, compraram motos possantes e fazem trilhas com outros companheiros, também fizeram tatuagens, esportes como surf, corrida, maratonas, natação, e até modalidades mais radicais como paraquedismo, asa delta, viagens com motor home, sozinhos ou acompanhados, escaladas, enfim  com maior poder aquisitivo e mais probabilidades de realizar seus sonhos, foram em busca de projetos não realizados na fase adulta. Com a liberdade sexual conquistada passaram a usar um comprimido azul, perante dificuldades de ereção, alguns utilizaram prótese peniana, ou fizeram cursos de tantra, também buscando maior prazer na sexualidade.

O que estas pessoas idosas têm em comum? São Envelhescentes, ou seja, não se contentaram com o que a idade cronológica lhes reservava. Este termo foi criado por Manoel Berlinck e referia-se ao período de vida entre 45 e 65 anos, porém de acordo com cada pessoa ou seu processo de envelhecimento e finitude esse período, atualmente pode ser mais complacente, assim como na adolescência que aumentou sua idade limite, de acordo com cada indivíduo e condições socioeconômicas.

A envelhescência não tem um tempo delimitado para pessoas idosas, pois cada um viverá seu processo de envelhecimento de acordo com sua experiência de vida, considerando que esta faixa etária representa uma grande heterogeneidade em sua população.

Mas uma constatação interessante é perceber que a geração de envelhescentes foi a mesma que participou de movimentos revolucionários na década de 60/70, ou seja, aquela juventude transviada e transgressora para os padrões da época, permanece rompendo paradigmas na atualidade.

Aprendendo a tocar guitarra, bateria, deixando cabelos grisalhos longos, barba branca, cabelos coloridos, bebendo e até usando canabis, assumindo sua sexualidade ou orientação sexual, nunca antes reconhecida, cursando faculdades para cursos almejados durante o período que precisavam preocupar-se com os estudos dos filhos, frequentando bailes e vivendo em grupos ou mesmo solitários, mas vivendo atentos a cada dia que poderá ser o último. .

Envelhescentes, quebrando tabus para as pessoas idosas, por vezes escandalizando filhos e netos com sua liberdade e vontade de continuar vivendo de forma prazerosa, transgredindo e não se acomodando, também é uma característica destas pessoas que teimam em não ser velhos, pois diferentemente de alguns com mais idade que dizem: “no meu tempo era assim ou assado…” os envelhescentes estão no

seu tempo, aproveitando o que a vida tem a lhes proporcionar, sem preconceitos, mas sem rebeldia, pois sabem que seu tempo é agora e que conquistaram toda a liberdade que usufruem.

E com certeza não irão desejar um Epitáfio como este:

“Devia ter amado mais

Ter chorado mais

Ter visto o sol nascer

Devia ter arriscado mais

E até errado mais

Ter feito o que eu queria fazer…”


Grace Gomes

Mãe,  avó,  ex-bancária,  aposentada na enfermagem, atualmente trabalha como  psicóloga clínica, facilitadora de grupos e de Biodança.

Graduada pela PUCRS,  e Licenciada pela IBF (International Biodanza Federation), especializando-se em Envelhecimento Humano e Gerontologia pela EMH Escola Mineira de Humanidades, atualmente.

Presidente Emérita da APORTARS  Associação de Portadores Transtorno de Ansiedade, experiência com idosos em Lares de Longa Permanência no Lar da Amizade Abrigo para Cegos e Idosos,  na unidade Moisés Groissman junto ao Hospital Psiquiátrico São Pedro, Psicóloga Comunitária e supervisora de estágio no IAPI Instituto de Assistência e Proteção à Infância.

Atualmente exercendo atividade voluntária junto à rede Calábria,  como facilitadora de Biodança, além do consultório particular com enfoque na Abordagem Centrada na Pessoa no acompanhamento individual de adultos, envelhecentes e casais.

Co-autora nos livros: Metamorfose da Vida e Perdi Tudo e Agora?


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