A intolerância com as pessoas idosas

Nenhuma geração viveu o que estamos vivendo. Vivemos uma modernidade líquida, nas quais as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis.

                A sensação é de estar em alto mar num barco com um remo quebrado para enfrentar ondas gigantes.

                E aí estão os “velhos”. Filhos e netos do passado tiveram poucas oportunidades de conviver com seus pais e avós “tão velhos”. As pessoas morriam muito mais cedo. Longevidade parece ser coisa bem mais recente.

                Quem tem mais de 70 anos tinha a máquina de escrever como a sua modernidade primorosa. Seu neto se não tiver um celular inteligente na mão “não vive”. Vejam a diferença!

                A cada dia nós – os mais velhos – nos deparamos em casa, na família, na sociedade com a falta de tolerância, de condescendência, de compreensão. Há comportamentos inflexíveis, rígidos que admitindo divergências entre filhos e pais, em especial quando estes são seus cuidadores. E as pessoas querem impor sua visão, seu pensamento ao outro como se só a sua visão fosse a verdade absoluta.

                Vivemos no mesmo lugar, no mesmo Tempo, momento, às vezes na mesma casa, mas somos de experiências diversas. E isto é que deve ser levado em conta.

                A pessoa idosa tem uma sabedoria acumulada que deveria receber de filhos e netos, da sociedade uma atenção total. Não se podem desprezar os seus conhecimentos, suas vivências. Mas não é o que acontece.

                Mãe e filha e neta não praticam a sororidade, não existe empatia. Por que a filha ou neta antes de querer impor sua visão à mãe e avó não se coloquem em seu lugar, pensando que a vó nasceu em 1930 quando não havia ainda o voto feminino.

                No mundo líquido é difícil pensar por falta de um suporte concreto, agora tudo flui, atrapalha o pensar e o refletir. O mundo da família, da proximidade acabou, estamos neste obscuro limbo, na espera de um novo mundo, e aí surgem os comportamentos monstros. Podemos dar uma mão para apressar o novo mundo…

                Voltaire o iluminista francês que nos legou o “Tratado sobre a Tolerância” nos ensina que “a primeira lei da natureza é a tolerância – já que temos uma porção de erros e fraquezas”.

                Todos temos erros e fraquezas, sejam pessoas jovens, de meia idade ou pessoas idosas. Por isso, tudo deve começar com a tolerância, mas o que vemos é que estamos cercados de intolerantes. A cada dia vimos a prática da intolerância religiosa, a xenofobia, racismo etc. E se é, também, intolerante com seus pais e seus avós.

                A tolerância já aparece nos textos bíblicos, incentivando a tolerância, a bondade e a justiça no tratamento dos outros. Mas foi o Iluminismo que nos legou as melhores lições de Humanismo.

                Albert Camus em seu monumental “O Estrangeiro” tratou do “outro” e foi lapidar ao dizer que:

                 Não é nenhuma vergonha ser-se feliz; vergonhoso é ser feliz sozinho. Se o homem      falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.”

                Você já pensou nisto? Você está “feliz da vida” e como andam os que o rodeiam? Pais, avós, amigos, o vizinho negro, o primo homossexual estão em seu radar?

                E como você encara a intolerância dos outros com os outros? Irmão intolerante com sua mãe idosa? Como você encara as piadinhas contra as ditas minorias?

                Bem, com este tema não poderia deixar de terminar o texto sem citar Frida Kahlo:

                “Não quero que pense como eu, só quero que pense.”

Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito.

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