A Psicologia e o envelhecimento

Quando retornei a faculdade de psicologia já era uma das calouras mais “veteranas” da turma, ou seja, tinha mais idade que muitos colegas recém saídos do Ensino Médio e me orgulhava por haver conquistado o 10º lugar na classificação do vestibular. A condição da idade me livrou dos “trotes”, nos primeiros dias de aula, pois saia de fininho, discretamente e ninguém desconfiava que eu era “bixo”, também.  

Dentro da PUCRS e principalmente na faculdade de Psicologia, nunca senti algum preconceito dos colegas e professores, pelo contrário sempre senti  incentivo a minha formação, principalmente por parte dos últimos, alguns deles mais jovens que eu . O companheirismo e a transgeracionalidade me acompanharam ao longo do curso, trazendo comprometimento e parcerias   na profissão além dos amigos para a vida.

No entanto,quando comecei a procurar campo de estágio houve algumas barreiras, principalmente pelo fato de trabalhar, ter filhos e mais idade. Nas seleções sentia avaliações subjetivas com comentários e questionamentos sobre minhas disponibilidades e real predisposição para enfrentar a tripla jornada com o estudo, trabalho e estágio, como se não tivesse capacidade suficiente para enfrentar os desafios.  

Fora do ambiente acadêmico era questionada sobre como me sentia lá dentro, se eu não estranhava estudar junto com pessoas tão jovens, se eu pretendia mesmo seguir até a formatura, se iria exercer a profissão, o que eu pensava sobre iniciar numa nova profissão perto dos 50 anos. Todas as questões manifestando um preconceito velado que me deixava mais determinada a seguir meu projeto de preparação para a aposentadoria, pois segundo as leis daquela época eu me aposentaria antes dos 50 anos.

Por outro lado, já havia alguns indicativos de que eu seria uma profissional bem aceita e requisitada por diversificados públicos que me diziam: “Psicólogo é como vinho, quanto mais maduro melhor!” Então minha construção profissional se solidificou na clínica, com a Abordagem Centrada na Pessoa, dentro de princípios do Humanismo, Logoterapia e Aceitação Incondicional da Pessoa, sem distinção de idade, credo, raça, ideologia e orientação sexual.

Depois de formada e já na posição de supervisora de estágio, sempre porporcionei oportunidade a pessoas com mais idade, quando obtivemos excelentes resultados nos projetos, comunidades e na produção textual, confirmando que a busca de conhecimento e ingresso em outra profissão independe de idade, mas sim de disponibilidade e desejo de buscar novas possibilidades de realização pessoal e profissional. Assim como Simone de Beauvoir predizia “ O Velho é o outro”, defendendo em seu livro A Velhice, a subjetividade que envolve o processo de envelhecer, proporcionando na década de 70, um novo olhar livre de preconceitos aos envelhecentes da atualidade.

Como psicóloga e pessoa, sempre lutei contra qualquer tipo de preconceito, e agora empunhando outra bandeira no Movimento Sociedade sem Idadismo, pela liberdade e reconhecimento dos direitos da Pessoa Idosa.

2 comentários em “A Psicologia e o envelhecimento”

  1. Perfeita tuas colocações. Peço permissão para somar à tua fala a questão do “sem limte” da coerção do idadismo. Lembro-me que com 26 anos e já 3 filhos, ingressei na Ufrgs e me senti “velha” dentro de uma turma de 18 a 20 anos. O idadismo é um vírus perigoso que pode trazer sequelas como imobilidade, descrença, acomodação, e sentimentos de desvalia consigo e com o mundo. O único antídoto é a coragem de enfrentá-lo, assim como a todo e qualquer preconceito. Obrigada, Grace! 😘

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