“Ôh véia!” “Sai da Frente Véia!”
“Só podia ser uma Velha!”
E por aí vai… Depois que deixei os cabelos ficarem brancos, os xingamentos no trânsito mudaram de teor, pois antes era: “Tinha que ser mulher…” “mulher no trânsito, perigo constante…” e outros impublicáveis também.
Após notícias de violências extremas no trânsito, contra mulheres e seus automóveis, nunca mais revidei e ou dei atenção aos impropérios ouvidos no trânsito, fecho os vidros e fico xingando baixinho, ou então dou um sorriso agradável para o agressor..
Mas diante deste novo status, da velhice com cabelos brancos e direção mais cautelosa, comecei a perceber a falta de paciência, principalmente com as pessoas idosas, que dirigem de forma mais previdente, principalmente dos motociclistas, além das buzinas e gestos enfurecidos de alguns motoristas estressados.
Hoje, percebemos que muito mais idosos ainda mantém sua liberdade de ir e vir no volante de seus próprios carros, alguns até se aventuram com motocicletas estilosas, e as usam como um hobby, em grupo ou solitários. Esses são chamados de “Tiozão da moto”, “Vovô descolado” “Idoso aventureiro”, motivo de preocupação por parte dos filhos e tentativas de demovê-los do esporte mais radical.
Sem pensarmos só no preconceito de idade: idadismo, sugere-se aí um machismo estrutural, onde novamente a mulher é ridicularizada ou desmerecida. Atualmente, não nos serve mais o rótulo de vovozinha acomodada, dependente de alguém mais jovem para se locomover, salvo doenças ou limitações físicas que poderão ocasionar um acidente durante o ato de dirigir, as avós estão aptas a levar e buscar netos quando os pais estão impossibilitados, viajar com amigas, dirigindo com rodízio de motoristas, e se locomover inclusive para manter sua capacidade cognitiva em alerta.
Sabemos que as respostas automáticas são mais lentas, mas a cautela também é muito maior, o que leva os apressados a nos xingarem no volante. Não temos mais pressa de chegar, mesmo na preferencial uma olhadinha para os lados é necessária, sabe-se lá se o outro vai reconhecer nossa preferencial, até mesmo quando uma sinaleira se abre é previdente esperar alguns segundos antes de acelerar.
As consequências do idoso no volante podem ser embaraçosas em algumas ocasiões, por exemplo, esquecer onde estacionou o carro, esquecer-se do carro e voltar para casa com outro meio de transporte, deixar de acionar o alarme ou fechar portas e vidros, acreditar que deixou o carro em algum local e não o encontrando pensar que foi roubado… Mas quem nunca antes de envelhecer não sofre lapsos de memória?
A falta de atenção ou hipomnésia, acontece em qualquer idade, dependendo do momento de vida ou estresse que a pessoa está vivendo, portanto, não é um privilégio exclusivo de idosos.
As dicas que temos a oferecer são:
Em shoppings fotografe o local onde deixou o carro;
Em estacionamentos na via pública também se oriente por um ponto de referência do local onde foi colocado o carro;
Esteja atento ao aqui e agora, ou seja, preste atenção se as portas e vidros estão fechados adequadamente;
Use a Abuse de recursos digitais, GPS, carro automático, se possível, aplicativos de trânsito e de estacionamento…
E jamais deixe de confiar em sua capacidade, seja responsável e consciente de suas potencialidades, mas não permita que outros decidam por você o que você entende que ainda é possível realizar.
E deixemos os “coelhos de Alice” continuarem correndo por aí olhando em seus relógios de bolso parecendo que estão com muita pressa, pois para eles 24 horas é sempre pouco tempo para realizar suas tarefas.