Manifesto

Por Uma Sociedade Sem Idadismo

Idadismo, termo utilizado pela ONU, ou etarismo, termo mais conhecido, é o preconceito em relação à idade. Contra jovens ou idosos. É mais visível, no entanto, contra idosos. O termo etarismo, aliás, está muito mais ligado ao preconceito contra idosos do que contra jovens, fato que limita as possíveis ações para combater o preconceito.

O prefácio ao Relatório Mundial Sobre o Idadismo, publicado pela OPAS[1], aponta que

o idadismo é prevalente, amplamente disseminado e insidioso, porque passa em grande medida despercebido e incontestado. O idadismo tem conse­quências graves e de longo alcance para a saúde, o bem-estar e os direitos humanos da população, custando bilhões de dólares à sociedade. Entre as pessoas idosas, o idadismo está associado à piora na saúde física e mental, ao maior isolamento social, à solidão, à maior insegurança financeira, à redução na qualidade de vida e à morte prematura. O ida­dismo tem sido menos estudado nos jovens, tendo havido menos relatos na literatura, mas vem sendo notificado em várias áreas, inclusive nas relacionadas com emprego, saúde e habitação. Durante todo o curso da vida, o idadismo interage com o capacitismo, o sexismo e o racismo, criando um acúmulo de desvantagens.

Ainda, segundo o relatório

O idadismo se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm. O idadismo pode ser institucional, interpessoal ou contra si próprio. O idadismo insti­tucional se refere às leis, regras, normas sociais, políticas e práticas institucionais que restringem injustamente as oportunidades e prejudicam sistematicamente indivíduos em função da idade deles. O idadismo interpessoal surge em interações entre dois ou mais indivíduos, enquanto o direcionado contra si próprio ocorre quando o idadismo é internalizado pela pessoa e usado contra ela mesma.

O ponto principal a ser salientado, aqui, é a visão do tripé que caracteriza o idadismo: estereótipos, preconceitos e discriminação. É comum, em nossa sociedade, e até por ser a face mais visível, a associação do idadismo apenas à discriminação. Esse fenômeno dificulta, enormemente, a necessária mudança cultural que precisamos fazer e que deve começar por ações que impactem em como pensamos (estereótipos) e em como nos sentimos (preconceitos).

Importa salientar um aspecto do relatório da OPAS:

O idadismo começa na infância e é reforçado com o tempo. Desde a mais tenra idade, as crianças captam mensagens subentendidas emitidas pelas pessoas de seu círculo sobre os estereótipos e preconceitos de sua cultura, mensagens essas que são internalizadas em pouco tempo. Depois, as pessoas usam esses estereótipos para fazer inferências e orientar seus sentimentos e comportamentos em direção a pessoas de diferentes idades e a si próprias.

Assim como movimentos sociais trouxeram para as “luzes da ribalta” as questões do racismo, do sexismo, de gênero, do capacitismo, dos povos originários, precisamos, com urgência, iniciar um movimento para mudar a sociedade com relação ao idadismo.

Somos uma sociedade que envelhece. O Brasil tem apresentado um acelerado processo de envelhecimento da sua população. Dados do censo de 2022, publicados pelo IBGE, apontam para um crescimento de 57,4% nos últimos 12 anos (desde o censo de 2010)[2]. Pela primeira vez o número de idosos cresceu mais que a população de jovens na faixa de até 14 anos. Já somos mais de 22 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Por outro lado, somos, também, um país com uma imensa população pobre e que vive em condições de vulnerabilidade social.

Uma associação perversa: idadismo e vulnerabilidade social. Jovens e idosos.

Somos uma sociedade historicamente formada a partir da exclusão e do preconceito. Exclusão de todos quantos não fossem homens de origem europeia: negros, indígenas, mulheres, jovens e idosos. Apesar de significativos avanços, ainda hoje mulheres são discriminadas no mercado de trabalho; negros sofrem racismo, povos originários são tratados como figuras folclóricas; e somos um dos países que mais mata pessoas LGBT. Sem contar o forte discurso capacitista.

Precisamos incluir o idadismo na luta. É preciso criar – ou ampliar – um movimento social amplo para uma mudança radical na forma com a sociedade brasileira pensa (estereótipos) e se sente (preconceito) em relação aos jovens e idosos. Somente assim poderemos, um dia, acabar com a discriminação.

As ações pontuais realizadas por ONGs e voluntariados os mais diversos, que procuram dar suporte para que idosos tenham uma vida digna, apesar de serem de extrema importância, não se mostram capazes de atuar no que é o centro da questão: mudar a cultura da sociedade com relação ao idadismo. E mais, mudar a quase inexistência de ações dos poderes públicos.

Em 2075, segundo projeções, quando os jovens de hoje serão os idosos de amanhã, o Brasil terá quase 40% da sua população formada por idosos. Não temos esses 50 anos para mudar.

Precisamos começar JÁ!

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Adeli Sell

Elenara Stein Leitão


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[1] https://iris.paho.org/handle/10665.2/55872

[2] https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias/2023/10/censo-2022-numero-de-idosos-na-populacao-do-pais-cresceu-57-4-em-12-anos.

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