Os trilhos do bonde…

Dia destes fui ao centro da cidade, como dizia minha mãe. E caminhando entre as ruas de calçamento irregular, esburacadas e muitos desníveis, quem conhece Porto Alegre, sabe do que estou falando. Caminhei uma longa distância,  sem sapatos adequados, vinha cuidando para não tropeçar, não cair, não esbarrar nas pessoas, não ser assaltada, enfim focada em chegar logo onde tinha que chegar e retornar imediatamente ao carro, sem precisar pagar muito mais que o devido no estacionamento.

Chegando a Praça XV, sempre com os olhos no chão e tentando não colidir nas pessoas me deparo com os trilhos dos bondes! E como um filme me veio à lembrança memórias indeléveis   de uma infância pura e divertida.

Eu devia ter uns cinco,  seis anos pois minha mãe ainda não trabalhava na Biblioteca Pública, cheguei a ouvir o som do bonde andando, de minha corrida para poder virar os bancos no final da linha, ali na praça XV. Pois para quem não sabe como funcionava; os bondes não faziam curvas, andavam sobre os trilhos e ao chegar ao final do trajeto, o motorneiro mudava de posição, ia para a outra frente e seguia seu caminho contrário,  novamente. Na época as pessoas não andavam de costas, então os bancos eram virados para que andassem de frente junto com o movimento do bonde.    

Era muito divertido, tinha até uma parte que segurava como uma alça para fazer esta mudança apenas no encosto dos bancos, não sei se fica claro para quem nunca viu ou andou num bonde.

As pessoas entravam e desciam pelas aberturas que não eram portas fechadas, então vinha o condutor e cobrava a passagem  dando um bilhete para o pagante, assim os mais “espertos” muitas vezes o ludibriavam, saltando antes de pagar a tarifa ou apresentando outro bilhete já usado. Incrível,  lembrei até como eles separavam as cédulas entre os dedos!

Acho que minha mãe não pagava minha passagem, pois às vezes quando o bonde lotava eu precisava ir no seu colo. Mas minha maior realização normalmente era quando chegávamos à praça XV, final da linha de muitos bondes, o que ia para Glória que era onde morávamos, Teresópolis, Partenon, Petrópolis e acho que Auxiliadora. 

Passou-me um filme pela memória, aqueles bondes amarelos circulando na Av. Borges de  Medeiros, alguns vindo outros indo, tudo tão mágico, encantador, agora na minha lembrança,  eu também gostava de observar os fios que se cruzavam onde passava o  cabo que por vezes dava uns estalos e saia um foguinho acho de  curto circuito ou estática…

Enfim! O que era para ser um grande inconveniente de ir ao centro da cidade, num dia de calor, acabou se tornando uma visita a um passado memorável que só poderia ter seu “Grand Finale” com um delicioso sorvete, para ser mais específica uma Banana Split, na Banca 40 do Mercado Público.

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