Perennials: Envelhecer com Propósito e o Combate ao Idadismo

Nos últimos anos, ouvimos muito falar sobre gerações “millennials” e “geração Z”, classificações baseadas em datas de nascimento que buscam definir comportamentos e visões de mundo. Mas, quando se trata de envelhecimento, um novo conceito está ganhando força: os perennials. Ao contrário dos rótulos tradicionais que nos prendem à idade cronológica, os perennials são definidos por sua atitude perante a vida. Isso nos ajuda a repensar como enxergamos o envelhecer e como combatemos o idadismo, que são os estereótipos, preconceitos e discriminações baseados na idade.

A Origem do Termo Perennials

O termo perennials foi criado em 2016 por Gina Pell, uma especialista em inovação e marketing, para descrever pessoas que continuam curiosas, ativas e conectadas com o mundo atual, independentemente da idade. Assim como as plantas perenes, que florescem ano após ano, os perennials mantêm uma postura vibrante e participativa ao longo da vida.

Ao contrário de rótulos como “baby boomers” ou “geração X”, que se baseiam no ano de nascimento, perennials não estão vinculados a uma geração específica. Eles podem estar em qualquer fase da vida – 30, 50, 70 ou mais anos – desde que compartilhem uma mentalidade de constante aprendizado, reinvenção e contribuição para a sociedade.

Perennials e o Idadismo: Quebrando Estereótipos

O idadismo, ou seja, os estereótipos e preconceitos que discriminam as pessoas com base na idade, ainda é muito presente. Ele afeta principalmente os mais velhos e os mais jovens, criando barreiras no mercado de trabalho, na convivência social e até nas expectativas de como essas pessoas devem se comportar. A ideia de que, ao envelhecer, uma pessoa “perde valor” ou “não pode mais aprender ou contribuir”, ou de quando se é jovem “ainda não temos experiência” ou “sabemos muito pouco” é um reflexo direto desse preconceito.

Os perennials desafiam essa visão ao demonstrar que envelhecer não é sinônimo de obsolescência. Eles permanecem curiosos, se adaptam às mudanças e se mantêm engajados em diversas atividades, mostrando que o potencial humano continua vivo em todas as fases da vida. Isso quebra a ideia de que o envelhecimento deve ser visto como um “declínio”, mostrando que ele pode ser uma fase de renovação.

Por Que Criar o Termo Perennials Não É Discriminatório?

Você pode se perguntar: “Não é contraditório criar mais um rótulo, quando o objetivo é justamente evitar a discriminação? Esse questionamento é válido. No entanto, o conceito de perennials não busca encaixar as pessoas em uma nova categoria limitada, mas, sim, oferecer uma alternativa que se afasta da cronologia e dos estereótipos.

Enquanto os rótulos tradicionais, como “idoso” ou “jovem”, podem carregar expectativas restritivas, o termo perennials celebra a diversidade de experiências e comportamentos que as pessoas podem ter em qualquer idade. Não se trata de uma faixa etária específica, mas de uma mentalidade, uma maneira de viver que valoriza o contínuo aprendizado e participação ativa na sociedade.

Em vez de segregar, o termo perennials amplia a visão sobre o envelhecer. Ele nos lembra que podemos ser produtivos, criativos e conectados ao longo de toda a nossa vida, sem que nossa relevância seja definida pelos anos vividos. Isso desafia o idadismo, promovendo uma visão mais inclusiva sobre o envelhecimento, sem impor limites artificiais baseados na idade.

Arquitetura Inclusiva: Espaços para Todos

Como arquiteta e participante do coletivo Metamorfose, que se dedica aos estudos sobre envelhecimento, incluindo cidades inclusivas, vejo diariamente como esses conceitos podem influenciar a maneira como projetamos nossos espaços. A ideia de que as pessoas podem ser participantes em qualquer idade nos faz pensar em ambientes que permitam a participação ativa de todos, independentemente de sua idade física.

Cidades e edifícios precisam ser inclusivos, acessíveis e adaptáveis para todos. Precisamos de espaços públicos que sejam acolhedores tanto para jovens quanto para pessoas idosas, e moradias que permitam o bem-estar e a mobilidade em todas as fases da vida. A arquitetura inclusiva não é apenas uma resposta ao envelhecimento, mas uma maneira de promover a convivência saudável entre gerações, eliminando barreiras físicas e sociais que limitam a participação dos mais velhos na vida cotidiana.

Um Novo Olhar para o Futuro

O conceito de perennials nos oferece uma nova e otimista perspectiva sobre o envelhecimento. Ele nos lembra que não existe uma “data de validade” para o potencial humano e que podemos continuar aprendendo, crescendo e contribuindo ao longo de todas as fases da vida. Ao mesmo tempo, ele destaca a importância de combater o idadismo em todas as suas formas – desde as atitudes diárias até as estruturas físicas e sociais que moldam nossas cidades.

Como sociedade, é essencial valorizar a diversidade de experiências e habilidades que cada geração pode trazer. E, como arquitetos e urbanistas, temos a responsabilidade de criar espaços que reflitam essa pluralidade, onde todas as pessoas possam viver com dignidade, segurança e propósito, seja qual for sua idade.

O futuro é de todas as idades. E ele começa agora.

O que você pensa sobre esse novo termo? Você se considera um perennial? Deixe sua resposta nos comentários e vamos conversar!


Elenara Stein Leitão, arquiteta e integrante do coletivo Metamorfose, que estuda os processos de envelhecimento e desenvolve projetos voltados para a criação de cidades inclusivas e seguras. Coautora dos livros “Metamorfose” e “Perdi tudo, e agora?”, sobre as enchentes no estado do Rio Grande do Sul em 2024.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima