A pergunta talvez seja outra: existe uma despedida da vida? Milhares de vidas acabam em um segundo. Acidentes, mortes súbitas, assassinatos e outras formas. Doenças fulminantes costumam demorar um pouco mais, por vezes alguns meses, não mais.
Recordo de conhecido, jovem e cheio de saúde. Diagnosticado com um câncer na cabeça, dois meses depois estava morto. Podemos dizer que não teve tempo de se preparar para a morte?
Quando iniciamos o processo de despedida da vida? Ao que parece, nunca! E existe esse momento? Deveria existir.
Mas antes de falar em morte, não deveríamos começar por falar na aposentadoria? Ou, antes ainda, no processo de envelhecimento? Existe relação entre aposentadoria e envelhecimento?
Raras são as empresas com programas de preparação para a aposentadoria. Demitem antes. E raros são os órgãos públicos que têm esse tipo de programa. Assim como a velhice, a aposentadoria é sinônimo de descarte.
O envelhecimento tem sido, costumeiramente, definido como decaimento das capacidades. Em todos os sentidos. Físicas e cognitivas. A medicina definiu, já no século XIX, como sendo a partir dos sessenta anos. Seguimos, ainda hoje, com esse estigma: 60+. Será? A medicina tem procurado mudar essa visão. O que não significa que a sociedade esteja aceitando que o envelhecimento, atualmente, comece bem mais adiante do que o afamado “60+”.
E o que significa estar se preparando para a morte? Será quando aceitamos (??) a aposentadoria, que o nosso tempo útil acabou? Ou será quando percebemos os primeiros sinais de decaimento? Ambos?
Falar em verdades é algo sempre complicado. Existe, no entanto, uma verdade inconteste: somos uma sociedade que não sabe lidar com o envelhecimento e, por consequência, não sabe lidar com a morte. Não as mortes trágicas, mas a morte como fenômeno natural. E não me refiro à dor dos que ficam, mas ao processo individual como resultado do envelhecimento. Na verdade, resultado de ter nascido.
Não ensinamos que a vida é um processo feito de etapas. E tem sido um processo de sucessivas crises: crianças entram em crise quando se deparam como adolescentes; adolescentes entram em crise quando são cobrados a serem adultos; adultos surtam quando se descobrem envelhecendo.
Construímos uma sociedade na base da eterna juventude. Quando será que aprenderemos, como sociedade, a aceitar o processo de despedida da vida?
Tenho um pensamento que procuro aplicar: a morte é uma etapa da vida. Precisamos encará-la dessa forma. Todos passarão por essa etapa.
Olá, Luiz Afonso!
Texto bem pertinente e necessário. Primeiro é preciso identificarmos o que é viver cada idade na sociedade atual. Seja a infância, a adolescência, a adultícia ou o envelhecimento / senescência exige um ressignificar. Entretanto, teremos sempre conflitos seja pelas transição etária, seja pelo encontro intergeracional. Há uma certa verdade: o envelhecer de hoje difere do envelhecer dos nossos ancestrais, dos nossos ascendentes.