Luiz Afonso Alencastre Escosteguy
Douraram a pílula. Um nome bonito para algo antigo: transformar as pessoas em meras consumidoras. Economia prateada.
O nome já é discriminatório, pois define um grupo de pessoas por uma única característica: a cor dos cabelos, como se todas as pessoas idosas tivessem cabelos ”grisalhos”. Até há pouco, esse grupo era definido também por um fator excludente: a idade. Bateu nos 60? É idoso!
E por que idoso e economia prateada são excludentes e discriminatórios? Porque ao rotular as pessoas por apenas uma característica exclui tudo o mais que seres humanos são.
Não por outra razão não se usa mais (ou não deveríamos mais usar) a palavra idoso. Nossa legislação já mudou desde 2022. Não temos mais um “Estatuto do Idoso”, mas um “Estatuto da Pessoa Idosa”. O foco é “pessoa” e não “idosa”
A “economia prateada” transforma as pessoas idosas em meras consumidoras, em um público “ávido” por comprar cremes para manter a pele jovem, em viajar, em comprar roupas de grife, etc. E tem mais, não falam mais em “60+”. Agora atacam os “45+”, os “50+”.
Segundo o SEBRAE, a partir de dados da FGV, esse é um mercado avaliado em R$ 2 trilhões. Pessoas com mais de 65 anos representam 17% da faixa dos 5% mais ricos do Brasil.
Só tem um problema: e os demais? Não importa. OK, vivemos no capitalismo e esse é o negócio deles. Tem público? Tem. A imagem ao lado fala em 54 milhões de brasileiros. Muito mais que os 17% dos 5% mais ricos. Ou seja, almejam outras classes.
Se antes éramos classificados pela idade, agora somos apenas consumidores. Com cabelos prateados.
A questão não se resume a ser contra ou a favor da economia “prateada”. É parte do sistema. A questão é que empresas (e mídia que delas recebe) solenemente ignoram tudo o mais que faz das pessoas idosas, pessoas com dignidade. E dignidade é mais que idade ou consumo.
Apesar de ser um “nicho”, mercadologicamente falando, isso em nada ajuda na conscientização da sociedade contra o idadismo, além de tratar a questão do envelhecimento como algo a ser “evitado” ou, no máximo, “melhorado”.
Uma moda que não veio para contribuir com a sociedade, apenas com o lucro.