Horizontes nº 2 – Contatos intergeracionais: como reaproximar as gerações?

Por Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Tema que tem se mostrado complexo, se considerarmos as características geracionais atuais. Somos uma sociedade que está envelhecendo, as pessoas vivem mais e com mais qualidade de vida. O fenômeno toma proporções que anteriormente não havia: mais pessoas idosas convivendo com jovens e adultos.

Cinco gerações com características distintas de vida e de experiências tecnológicas: bommers, Xs, Millennials, Zs e Alphas.

O resultado, como já apontado pela ONU/OMS, é o crescimento do idadismo, que são os estereótipos, preconceitos e discriminações praticadas contra pessoas ou grupos de pessoas, sendo as mais atingidas as pessoas idosas e os jovens (Millennials, Zs e, logo ali, os Alphas). E a discriminação, no caso das pessoas idosas, resulta, em muitos casos, nos mais variados tipos de violência, praticados, em sua imensa maioria, por familiares, principalmente filhos e filhas.

A violência é fruto desse afastamento entre as gerações, daí ter a OMS estabelecido como uma das três principais recomendações para o combate ao idadismo as chamadas “Intervenções de Contato Intergeracional”.

Muitas são as ações e projetos que podem ser desenvolvidos nesse sentido, como veremos. É importante salientar, no entanto, que estamos diante da urgente necessidade de uma grande e forte mudança cultural. A maioria das ações que vemos implementadas, apesar de importantes, têm âmbitos locais e são restritas a pequenos grupos ou comunidades, carecendo de força e coesão para uma mudança de alcance em toda a sociedade brasileira.

Faz-se necessário, imperioso até, que os poderes públicos, em todas as esferas, estabeleçam leis específicas para fomentar os contatos intergeracionais, alocando, inclusive, recursos para o desenvolvimento de projetos e ações.

Um exemplo de programa desenvolvido por organismos oficiais é o MATES (Mainstreaming Solidarity Intergerational), um programa europeu, co-financiado pelo Progema de Aprendizagem ao Longo da Vida da Comissão Europeia.

Um outro programa oficial é o Viver e Conviver, desenvolvido por representantes da Obra Social de Caixa Catalunya, o Concelho da cidade de Barcelona e universidades, um programa de co-habitação intergeracional entre pessoas idosas que vivem sozinhas e jovens estudantes universitários.

Vale citar um terceiro programa, desenvolvido por organizações italianas, o Fifty-Fifty, cujo objetivo é formar equipes de voluntários jovens e pessoas idosas, para desenvolverem estratégias e estimular as administrações locais, associações e cidadãos a participarem na construção de uma cidadania ativa.

Dentre projetos e ações que buscam promover o contato intergeracional, vale lembrar:

1 Programas de Mentoria, onde pessoas idosas possam atuar como mentores para jovens, compartilhando experiências de vida e conhecimentos profissionais;

2. Atividades comunitárias, onde pessoas de todas as idades possam participar, de forma colaborativa, da organização e realização de eventos como feiras, oficinas, festivais e outros tipos de eventos de interesse da comunidade;

3. Projetos escolares e universitários, para incentivar escolas e universidades a desenvolverem projetos que envolvam a participação de pessoas idosas, como entrevistas, histórias de vida e atividades em conjunto com jovens, podendo incluir a participação de pessoas idosas em aulas e palestras;

4. Tecnologia e educação digital, pela promoção de cursos de tecnologia onde jovens ensinem pessoas idosas a usar dispositivos digitais e redes sociais. Isso não só ajuda as pessoas idosas a se manterem conectados, mas também cria uma troca de conhecimentos e habilidades;

5. Voluntariado intergeracional, para desenvolver ações sociais de forma conjunta entre jovens e pessoas idosas.

São muitas as ações e projetos que podem ser desenvolvidos, mas reiteramos: a mudança desejada e necessária passa, obrigatoriamente, pelo envolvimento do poder público. E é nesse sentido que um dos objetivos do Movimento Sociedade Sem Idadismo é fomentar políticas públicas que tenham  efetividade, em o que, continuaremos a ser uma sociedade idadista.


Fonte dos exemplos citados:

Guia de Ideias para Planear e Implementar Projetos Intergeracionais:

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