Gerontofobia é o medo, por vezes excessivo, de envelhecer ou do processo de envelhecimento. É, também, a aversão ou desprezo por tudo que se refere à velhice ou pelas pessoas idosas. (Academia Brasileira de Letras).
Conforme a psiquiatra Dinah Akerman (USP), ainda, sem registro na Classificação Internacional das Doenças – CID), a gerontofobia não é considerada diagnóstico. No entanto, é possível percebê-la na conduta do indivíduo. “Chamamos de fobia porque é um medo excessivo e desproporcional ao risco oferecido por tal coisa. No caso, o envelhecimento. Pessoas que discriminam idosos, que estão preocupadas demais com a aparência, adultos que se comportam como jovens são exemplos. É claro que não podemos generalizar, pois um conjunto de fatores é que vai determinar se o que você tem é gerontofobia ou não” (ABL).
A gerontofobia pode ser reforçada por estereótipos negativos sobre o envelhecimento, como a crença de que todas as pessoas idosas são frágeis, doentes ou desatualizadas tecnologicamente.
Nesse aspecto, mídia e empresas contribuem de forma significativa, pois acentuam a juventude como objetivo de vida. Desde crianças somos ensinados que só é bonito o que é jovem, novo, sem “marcas do tempo”.
Não há um padrão, pois depende das experiências individuais, mas, com certeza, a proximidade com o envelhecimento de pessoas (pais, avós e outros familiares) e mesmo a perda de pessoas queridas mais velhas, desperta o sentimento de que também passaremos por essa etapa da vida, ou ao menos a perspectiva de chegarmos lá.
Passamos a existir com a finitude.
Solidão, medo da morte, problemas de saúde, limitações físicas, perda de memória, perda de energia, dependência de terceiros, possibilidade de internação em instituições para pessoas idosas, mudanças no corpo, abandono, perda da autonomia e da independência. Apesar de não muito divulgado, esses medos acabam por conduzir pessoas idosas ao suicídio, que hoje já representa, proporcionalmente, uma parcela maior entre pessoas idosas se comparado aos percentuais de pessoas jovens que cometem suicídio.
E por que a gerontofobia se torna um tema importante, objeto de variados estudos e pesquisas? Segundo os dados do último censo do IBGE (2022), o Brasil está se tornando, a passos largos, uma sociedade “envelhecida”. A população de pessoas idosas cresceu 57,4% nos últimos 12 anos (desde o censo de 2010). Aumentou, também, o índice de envelhecimento, que mede a relação entre pessoas idosas e crianças. Em 2022 esse índice passou para 55,2, significando que para cada 100 pessoas com idade entre 0 e 14 anos, há 55,2 pessoas idosas. O envelhecimento populacional brasileiro se torna um problema social que deve ser enfrentado em todos os seus âmbitos e políticas públicas mais efetivas devem ser desenvolvidas para lidar com essa fatia da população, dentre elas a aceitação da gerontofobia como fenômeno não apenas individual, mas social.
Uma mudança cultural se faz necessária
Uma mudança que promova a inversão dos estereótipos sobre o envelhecimento. Desenvolver projetos e ações nas escolas de ensino fundamental e médio, que é quando começam a surgir esses estereótipos. Mostrar para crianças e jovens que o envelhecimento é algo natural e que pode ser vivido com dignidade e participação social. Que o sonho da eterna juventude não passa de propaganda para vender produtos que, sabidamente, nada fazem para impedir o processo natural de envelhecimento.
Desenvolver projetos e ações que desenvolvam o chamado envelhecimento ativo, que proporcionem a participação ativa das pessoas idosas na sociedade e em suas comunidades, com oportunidades de continuarem trabalhando e compartilhando suas experiências e conhecimentos, além de outras formas de reconhecer que pessoas idosas “não são inúteis”. Autonomia e independência são aspectos fundamentais para um envelhecimento ativo. No entanto, são fatores fortemente atingidos por quem sofre com a gerontofobia.
Muito importante, implica em uma mudança nos meios de comunicação, maiores propagadores da “eterna juventude”, movidos que são por empresas interessadas em vender produtos que prometem que você “nunca será velho”, ou, ainda, propagam a ideia de pessoas idosas como “velhinhos e velhinhas” que merecem cuidados e, no mais das vezes, sentimentos (preconceitos) de pena. É preciso mudar a forma como a mídia se coloca na sociedade.
Por fim, o tema da gerontofobia, por amplo que é, não se esgota em poucas linhas, mas é necessário que passe a fazer parte das discussões sociais e seja incorporado, como conceito, às ações governamentais em todos os níveis.
Somente assim poderemos ser uma sociedade “envelhecida” com dignidade. Afinal, a menos que se morra jovem, todos seremos “velhos” um dia.