Horizontes nº 2 – Livros

A Velhice, de Simone de Beauvoir, é uma obra profunda e corajosa que aborda a condição das pessoas idosas na sociedade moderna. Publicado em 1970, o livro é um verdadeiro tratado sobre o envelhecimento, escrito com a sensibilidade característica da autora.

Beauvoir explora como a sociedade patriarcal e capitalista contribui para o descaso com as pessoas idosas, revelando uma realidade muitas vezes cruel, mas também rica em experiências. Ela não se limita a apresentar dados frios, mas busca entender a percepção dos idosos pela sociedade, oferecendo uma visão humanizada e crítica.

A obra é dividida em duas partes principais: a primeira analisa o envelhecimento do ponto de vista biológico, psicológico e social, enquanto a segunda parte foca nas experiências individuais das pessoas idosas, incluindo suas lutas e resistências.

Beauvoir destaca como a velhice é frequentemente vista como uma fase de declínio e marginalização, mas também como um período que pode ser vivido com dignidade e significado.

Na primeira parte, Beauvoir examina como a sociedade vê a velhice, desde o tratamento dados pelos familiares até as percepções filosóficas e literárias ao longo da história. Ela destaca como as pessoas idosas são frequentemente marginalizadas e desvalorizadas, sendo vistas com um fardo. Beauvoir critica a hipocrisia da sociedade que , ao mesmo tempo em que exalta a sabedoria dos mais velhos, os isola e os priva de uma vida digna.

A segunda parte do livro é mais introspectiva, onde Beauvoir utiliza exemplos concretos para ilustrar os desafios enfrentados pelas pessoas idosas. Ela discute a perda de autonomia, a solidão e a deterioração física, mas também enfatiza que as pessoas idosas continuam a ter desejos, paixões e a capacidade de amar.  Argumenta, ainda, que a sociedade deve mudar sua atitude em relação à velhice, promovendo o respeito e a valorização dessa fase da vida..

Um dos pontos mais marcantes do livro é a crítica ao sistema de saúde e às intituições que cuidam das pessoas idosas. Beauvoir denuncia a falta de recursos e o tratamento desumano que muitas pessoas idosas recebem, defendendo uma reforma que garanta dignidade e cuidados adequados para todos. Ela também aborda a questão da morte, discutindo como a sociedade evita o tema e como isso afeta a maneira como as pessoas idosas vivem seus últimos anos.

O livro A Velhice permanece relevante até hoje, levantando questões importantes sobre como tratamos nossas pessoas idosas e como podemos melhorar suas condições de vida. É uma leitura essencial para quem deseja compreender melhor as complexidades do envelhecimento e a importância de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa.

Segundo Marcelo de Maio Nascimento, “A técnica de Beauvoir incidiu em imergir no pensamento e sentimento das pessoas idosas, destacando elementos históricos para ampliar a compreensão dos modos como a psique dos indivíduos e da sociedade se relacionavam com a velhice. Beauvoir caracterizou a sociedade moderna como competitiva, produtiva, machista, valorizadora da funcionalidade e beleza dos corpos, e, portanto, responsável pelo afastamento dos mais velhos do mercado de trabalho. Este texto é um convite à reflexão sobre os modos como reconhecemos e admitimos as alterações que tempo exerce sobre nossos corpos e o modo como geralmente tratamos as pessoas idosas.” (“A velhice segundo Simone de Beauvoir: considerações para uma gerontologia do envelhecimento”, Revista Corpoconsciência, v.25, n.3, p.237-250, set/dez, 2021)

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